sábado, 13 de novembro de 2010

Purple Rain


Isto não é um videoclip nem um roteiro para um, mas, me sinto flutuando em purpurina cintilante, sem temer adjetivos. É como se eu sonhasse, tivesse caído em um sonho e à minha volta a luz lilás perfumada em talco de flor, lavanda, me segurasse no colo.
Este é o relato ao final dos dez primeiros anos de minha imersão nos jogos de RPG em chats de internet. Este é o tempo em que a personagem Tara Barka risca a tela de meu notebook e acende o fogo criador. Interpretada por alguém a quem chamarei de Ys, sem lhe mencionar sequer o gênero verdadeiro, meu aluno/a na Faculdade, criança Cristal, parceira estelar, Tara veio ao acaso, quando Ys, na saída da sala de aula pediu meu MSN, e lhe dei o único, em que assino Marcel de Léon.



Purple_Rain_by_Hera_of_Stockholm:
http://hera-of-stockholm.deviantart.com/art/Purple-Rain-80127907?q=boost%3Apopular+purple+rain&qo=24

Uma noite depois falávamos no MSN, a respeito de música. Ela não era um chato com mania de enviar as preferências musicais ao pobre professor velho demais para buscar as fabulosas novidades da cena musical mundial contemporânea. Notei a paixão expressa em palavras vivas, chamativas, que pareciam contar uma verdade a respeito dos artistas apresentados, por Ys, como algo inovador e fora do circuito dos tapetes vermelhos e calçadas da fama. Percebi que deveria convidá-la a escrever e jogar comigo, a paixão evidenciada numa simples conversa de MSN era algo a não ser desperdiçado.

“Don’t stop”, de Owen Pallett, uma das canções que me apresentou, talvez em uma noite da segunda semana, adquiria consistência. Um estranho instrumento de difícil identificação chamou minha atenção por ser esganiçado, dissonante, engraçado. Batizei-o de “vuvuzela”, aquela irritante corneta que ficou famosa durante a Copa Mundial de Futebol 2010, na África do Sul. Ys me disse que é um violino eletrônico distorcido. A música provoca uma alegria calma, tonteante, acolhedora, repetitiva e hipnótica. A sensação se repete no momento em que nossos jogos de RPG acontecem e na releitura das cenas que os compõem.

Tara, a irlandesa-marroquina, experiência fantástica de Ys, vai nascendo em meio a sons desse tipo, em contraponto ao meu Micael que tem dez anos de construção, isso se não contarmos os mais de 30 anos de existência nos livros de Anne Rice. Fico impressionado pela riquíssima construção de personagem que a moça faz mesmo sem estar habituada às regras do RPG que estruturam nossa modalidade de escritura.

Tara e Ys constroem uma nova metáfora para meu Lestat: a das estrelas, das flores e da música, associada a uma inegável paixão pelas cores e pela sinestesia geral. Vejo os signos que dão Micael à vida se recompondo em extraordinário caleidoscópio de sentidos e sensações. Impossível ler as páginas que tecemos e não sentir o corpo vivo participando de um outro mundo mais sensual e mais espiritual que o nosso, esse do cotidiano inconsistente e midiático do século XXI.





Meu quarto rosa e pêssego de bichinha fica cheio de perfumes e cores. Do púrpura ao azul, do violeta ao rosa, do lilás ao pérola aqui tudo se metamorfoseia em cor e som, em cheiro, gosto e toque de chuva púrpura como vinho, sangue e frutas vermelhas, como veludos, plumas e bolhas transparentes coloridas de sabão.

Jogamos há três semanas, narramos algumas horas em New Orleans, não mais de quatro horas, desde um pub vampiresco, com o balcão, bancos giratórios, e o banheiro masculino onde o casal também esteve, e o terceiro espaço: a casa mítica de Tara. Ys e eu parecemos ter milhões de anos para contar essa história regada a música, danoninho e café.

Entre uma cena e outra, nos falamos, rimos no MSN, e Ys me passa músicas de gênio e sublimidade, apresentando-me nomes como Joanna Newson e Antony Hegarty, fauno, unicórnio, musa, ninfa e quem souber que atribua o adjetivo adequado a uma e outro, hahahahahah! Sempre há uma música, várias músicas, em camadas de palimpsestos, aquele caro pergaminho medieval, em que camadas e camadas de textos eram apagadas, por economia, para reutilização do suporte em que se escrevia. Sempre há outros textos também.

Entre todas as camadas de sons, palavras, cores e sentidos, Ys atendeu ao chamado e disse “Não, eu não tenho medo de Micael Al-Hareck”. Minhas madrugadas agora são exacerbação da glândula pineal, estadias no plano espiritual, imersão no sagrado polvilhado pela cidade adormecida e iluminada. De dentro dos meus centros de força do coração, o menino sagrado brota em ternura e novidade, a verdadeira novidade construída na encarnação de afeto em letras que a parceria com Ys orquestra por meio de uma empatia quase alucinante, quase, se não fosse tão pé no chão, tão rica de um conhecimento profundo da época, da humanidade, dos seres que somos enquanto filhos do húmus e das estrelas.

Em meio aos conflitos temporais e atemporais que unem Tara e Micael, a literatura lúdica que fazemos vai ganhando contornos de luz e sombra, de estrela e vegetal. Ys e Tara lidam com o inusitado de amarem e serem amadas por um menino-homem que tem ao mesmo tempo 242 anos, 20 anos, 15 anos, 12 anos e menos. Um menino que busca afeto e sexo nos adultos e os perturba ao forçá-los, sem premeditar, a lidarem com ética, moralidade, amoralidade e puro prazer, mas, aquilo que mais aprecia é a presença pura e simples do outro.

No caso de Tara, uma parceira de outras vidas bem antigas, como há mais de dois mil anos, entre a Gália e a Irlanda, quando a moça assinava outro nome, era filha de uma sacerdotisa de Brigidt, a Deusa do Fogo, e ele, o menino, era filho de Vercingétorix, o grande rei celta capturado e morto por Júlio César.

Decisões narrativas ganhando formas em três semanas de jogos, cada qual em média com três noites de quatro horas, totalizando 36 horas de criação a quatro mãos e duas (em hipótese) mentes apaixonadas pelo universo que as arrebata como se mente e universo não fossem interdependentes. Esta é uma forma de literatura que parece improvisada e espontânea. Esse gostinho jazzístico nos vicia e alucina, envolve corpos e mentes conectados por internet e afeto.

O nome dessa substância é “purple rain”. Nem metanfetamina, nem crack, nem opium, heroína e haxixe, nem todos juntos são capazes de nos tornar videntes desregrados de tanta sinergia, descobridores do que faz corpo e espírito serem a mesma maravilha, a existente realidade dos deuses em nós.

A gente não tem medo do medo que a alegria nos faz sentir, estamos abertos às rosáceas do tempo, aos vitrais do espaço que Micael e Tara fazem se descortinar diante dos olhos de quem os vir, de quem o ler e saborear como nesses trechos com que brindamos o leitor, nosso irmão, nosso semelhante neste tempo em que outra humanidade está surgindo sem hipocrisia, adeptos de uma nova sinceridade:



(12:59:36) Micael Al-Hareck fala para Tara Barka: A camiseta com o rosto juvenil de Jagger alongava ainda mais a silhueta do lourinho, contrastando com a feminilidade da meia calça rosa antigo transparente que deixava ver a lingerie dourada e feminil. Micael voltou ao sofá, mastigando as batatas daquele jeitinho lento. Sentou-se com as pernas abertas e jeito de homem, mas, coçou o rosto porcelain de jeito de menino, encarando Tara no short laranja.*Essa música que cantou... é... é... linda... e esse pandeiro irlandês, é irlandês, né? Irlandeses são lobisomens, sabia? *Havia uma sinceridade vibrando como luz nas íris violeta. Micael não conseguia não falar do que sabia. Ele tivera inimigos irlandeses, vampiros e garous [em jogos engraçadíssimos, e é verdade, muitos lobisomens dos livros de RPG são irlandeses, e, no RPG, são inimigos dos vampiros]. As dúvidas o intrigavam, ele queria saber, mas, não desviava os olhos das pernas da moça.

(01:57:30) Tara Barka fala para Micael Al-Hareck: O jeito que Micael estava vestido e a forma delicada com que levava as batatinhas à boca faziam os olhos de Tara enxergarem nuances mais escondidas, mais ocultas e tímidas nos modos e jeitos do Pequeno Príncipe Violeta. Tara estava à frente das lembranças mais doces de sua vida antiga, lembrando de tudo com irretocável realidade, mas isso não parecia impressioná-la mais do que a singeleza de querubim anacrônico de Micael. Tara olhava detalhezinhos em sua pele, passava os dedos de seus olhos na textura requintada da meia do menino, se indagava quanto àquilo que poderia estar por detrás da lingerie, mais exuberante que as suas. Curiosidade da moça, enquanto estranho de menino-hermafrodita-homem-anjinho-demônio-bardo do rock... Ah, eram tantos os nomes que ela poderia utilizar, tantas as faces que conseguiria enxergar. A moça deixou o pacote de Pringles na mesma mezinha da árvore-abajur e sentou-se no chão com as pernas cruzadas.

Um brinde, Ys, um brinde à sua escritura forte e cintilante, sem medos das cintilâncias pops dos adjetivos, que, afinal, as malditas rupturas modernistas e o vazio repetitivo da pós-modernidade se tornaram igualmente enfadonhos. A gente só quer brincar de amar e criar belezas capazes de vencer a feiúra mentirosa dos jornais, revistas e mídias sociais. Sendo assim, Ys, decidi, com auxílio de meu terapeuta, convidá-lo/a para verdadeiramente, em papel impresso, escrever, assinar e publicar comigo esta fase de meus dez anos de crônicas dos vampiros na internet. Nome do livro deste tempo: Purple rain.





domingo, 3 de outubro de 2010

Belle qui tiens ma vie


Esta postagem são fragmentos de meus jogos com Vulpes Sollertes, uma parceira que joga com rara habilidade e uma elegância incomum. Ela inaugura uma nova fase de minha fábula, mergulhando comigo na doçura atemporal de Micael Al-Hareck, o ser em quem se transformou Lestat de Lioncourt. Não busque no excerto, caro leitor, o sentido. Saboreie a amostra que, talvez um dia, traremos a público em meio impresso. As cenas escolhidas hoje são escritas por mim. Talvez na próxima eu publique a resposta de Vulpes, intérprete de Louise von E. e Bertrand, respectivamente uma abadessa e um templário, vampiros que persistem imortais e atuantes em 2010, visitando a mansão de Rarif Al-Hareck, o pai adotivo de Lestat/Micael:


O perfume do jovenzinho pairava sobre a cena, inadequado, a antiga essência opiácea d’Yves Saint-Laurent, dialogando com a dureza do olhar do Cruzado. Micael não percebia racionalmente o contraste. Podia, entretanto, sentir a força máscula do visitante naquele olhar duro enquanto o menino dava um passo a afastar-se para perceber melhor Bertrand e Louise.Louise era um orquídea rósea e violácea em meio ao verde esmeralda do fino tecido que a separava de Bertrand e Micael. Imortal e feminina, voluptuosa, ele, ao cochichar o que o lourinho não pudera ouvir, acendeu-lhe um pouco mais o ciúme, confusamente mesclado a algo nascente, vindo, talvez, da leveza de Louise interagindo com o poder masculino do Cavaleiro.

O coração de Micael disparou ao reconhecer o significado do que Bertrand era. A “Cavalgadura”, o esperado Templário, em quem o infante buscava o que nem sabia. Consolação para a redenção, que lhe detivesse o rejuvenescimento, ou algo mais pleno que isso, que lhe avivasse os nervos cada vez mais sensíveis e menos poderosos para tanto sentir, tanta epifania em vida e carne. Ligeiros tremores percorriam a pele rosadinha e morna, logo umedecida por suor cristalino e sem cheiro. Um tanto afastado do casal, o menino abraçava a si mesmo, tal que se desprotegido diante dos séculos deles, do sangue de muitas mortes nas veias deles, nos olhares de amantes e predadores cuja força era tão extasiante a um espírito Toreador.Entre os cochichos do casal, um breve silêncio rompido pela voz mansinha de morango e flor, atrevidamente tola.* Senhora, então esse é meu Templário, é?

Olhando direto para a abadessa, o efebo exibia aquele violeta luminoso de contentamento nas íris, alegre como na noite de Natal, reconhecendo o presente esperado o ano inteiro. Bertrand era tão presente e duro, certo de coisas que a criança apenas podia adivinhar. Era  a macheza antiga e segura, a força da testosterona  e das guerras, do oposto perfeito da espiritualidade. Louise era a carne viva do amor contido até a algum ponto que confundia a mente infantil em que Lestat de Lioncourt se consumia, em que, cada vez mais à vontade, se metamorfoseava em pureza e tolice. O menino sabia-se na presença de vampiros, bebedores de gentes, sendo ele somente um mortal jovenzinho e cheirando a vida. No entanto, não os temia assim só por isso, não os abominava, não os queria distantes, ao contrário, os desejava com o fogo do sexo, admirava-os com o espírito de esteta que não morreria jamais.

Estar diante deles era começar a compreender a alma dos “Mercadores de tecidos”, obra de Rembrandt que Lestat sempre tivera como paixão, que Erasmus Antinori Zottarelli fizera roubarem do Museu de Amsterdã, trocando-a por cópia jamais detectada, presenteando o jovem amante, ainda vampiro, com a original. Nos olhos de Bertrand e Louise, Micael notava o mesmo brilho dos olhos dos mercadores, a mesma sutileza com que Rembrandt captara o fogo imortal em suas criaturas, como se o comércio deles fossem as tramas da existência, a urdidura entre carne e espírito. Por nada disso ser pensado em Micael, era avassalador, dava-lhe febre, emudecia-lhe a boquinha que invejava os beijos entre o casal. No possessivo “meu”, ao referir-se ao templário, a inocência dele se tornava carne, permanecendo, porém, de flor e avezinha, de seda e aragem. A força do casal o aturdia, ele olhava, vez em quando, as fibras do tapete, desviando o olhar, esforçando-se para os suportar sem atirar-se aos braços deles, tentando seguir a risca as lições de Papandreus.* Monsieur pode mesmo me ajudar? Ela lhe disse que sou Lestat de Lioncourt? Não precisa se preocupar, eu não namorei ela, não, viu?

domingo, 25 de julho de 2010

Cosplay – um dandy em Rio Preto/O escritor empresta a voz à escritora



Esta postagem é para aqueles que realmente leram a primeira, de 12/02/2009. Não fará sentido para quem não leu.

A dona deste blog não é a dona da voz de todos os textos depois dessa postagem inicial. Ela administra o blog, monitora-o e faz, a mim, Daniel Rodrigues, a gentileza imensa de selecionar jogos de RPG em que atuei e a respeito deles compus críticas e reflexões, narrando principalmente a história minha, não a de minhas personagens, e as publicar, escolhendo imagens que melhor ilustrem o que está sendo narrado. Todo o projeto deste romance-blog-teoria está explicado em postagens anteriores a esta, sobretudo nessa primeira postagem de 2009, única na voz daquela que é dona do blog e assina as postagens, não o “livro” Vampiros na internet – uma fábula para crianças índigo.

Hoje, contudo, resolvi inverter o jogo, ceder minha voz à minha grande amiga, irmã, orientadora intelectual e espiritual: Dinamara Garcia, para auxiliar na divulgação do primeiro livro de ficção que ela publica no Clube de Autores: Cosplay – um dandy em Rio Preto, que eu revisei. Ele pode ser comprado em http://clubedeautores.com.br/book/24621--COSPLAY

Escrito em 1991, quando a autora fazia o último ano de graduação em Letras, o livro é ambientado em São José do Rio Preto, cidade a 450 quilômetros da capital, no noroeste do Estado de São Paulo. O espaço paulista e interiorano é cenário para um protagonista anacrônico: um inglesinho chamado Glenn – sem sobrenome declarado –, leitor de Wilde e Pessoa, fã da banda inglesa The Smiths.

Ladrão de retratos que ganham vida no contato com ele, Glenn é uma personagem solitária e afetuosa, mergulhada no universo ficcional e poético dos autores que lê avidamente e com os quais dialoga. Ao ler, Glenn se transporta fisicamente para o espaço da narrativa ou transporta a narrativa para a casa dele, vivendo curiosos casos de amor em várias dimensões.

De curta extensão e final surpreendente, a obra é uma novela psicodélica, transfigurando a cidade de Rio Preto que se torna espaço mítico, onde se misturam a Londres de 1890 e a Lisboa de 1915, formando um caleidoscópio de imagens e sons com trilha musical dos Smiths, antecipando um fenômeno típico dos anos dois mil: o cosplay, a lúdica metamorfose fashion de adolescentes e jovens em personagens de livros, filmes, mangás, animes e comics.

Enquanto cursa, em 1991, o último ano da graduação em Letras, a autora transfigura São José do Rio Preto-SP, destacando as velhas ruas do bairro Boa Vista e outros cenários a partir da presença ambígua de um dandy que, por meio da fantasia, vive casos de amor com personagens de Oscar Wilde e Fernando Pessoa, ao som da banda britânica The Smiths, considerada a melhor do ano de 1987.

Antecipando o fenômeno dos anos 2010: o Cosplay, o livro é uma novela contemporânea, abordando com leveza quase infanto-juvenil a capacidade imaginativa do ser humano anônimo em suas relações com as diversas escolhas oferecidas pelo mundo. Glenn é o desconhecido que interpreta papéis sociais, afetivos e divertidos, guiado pelo vício estranho de roubar retratos e ler boa literatura.

Estudiosa de Semiótica, a autora é professora de Semiótica da Comunicação, Crítica da Mídia Jornalística/Publicitária e Moda Contemporânea.

Boa leitura!

Links das imagens:
Peacock_tail_by_meago:
http://meago.deviantart.com/art/Peacock-tail-169479033?q=1&qo=1
Dandy Mangá:
http://ysa.deviantart.com/art/Dandy-Knight-99793834?q=1&qo=1

domingo, 11 de julho de 2010

Quem tem medo de Micael Al-Hareck?



Jogar comigo nunca foi muito fácil para a maioria dos parceiros. Mesmo os melhores, mais cultos e bem preparados acabam me abandonando. Curioso é que não por motivos pessoais, não por falta de gentileza e respeito de minha parte e deles, na maioria dos casos. Eles se afastam por MEDO. Um pavor quase pegajoso de mergulhar na abissal e escura face do ser humano.

Não pensem que escrevo esta confissão me vangloriando porque persigo o mergulho, porque ambiciono o abismo sem fim do que se chama “alma”, “espírito”, “psique”, “consciência”, “ego”, “id”, “subconsciente”, “inconsciente”, não, eu não estou contente por este feito.

Porém, ir fundo na investigação dos sentidos, sensações, percepções, opiniões e ações que envolvem minhas personagens e das que com elas se relacionam é um imperativo, sobretudo porque todos os seres cujas existências descrevo não são humanos comuns, normais, cotidianos, na verdade, são seres míticos, sobrenaturais, sobre-humanos.


Se fossem mortais e comuns, ainda assim, o que me interessaria era mergulhar nos seres espirituais deles e dos afetos e desafetos que os cercam, no mais recôndito de seus segredos, onde se escondem perigosos sentimentos, desejos, amores, temores e propensões que ultrapassam as convenções sociais, os regulamentos institucionais da civilização.

Busco tornar-me vidente do que muitas vezes não quero enxergar em nenhum de nós, estes humanos, aquilo que o desregramento dos sentidos em si, sem o amparo da linguagem, não é capaz de mostrar, de tornar nítido


A palavra escrita é minha lente, meu telescópio, meu microscópio, meu escafandro, meu traje espacial. Por meio dela alço voos e despenco nas profundezas, tentando, via ficção, sentir as redes neurais – minhas, das pessoas e do universo –, buscar aquilo que nos torna humanos e pode ser inumano, terrível, assustador e comovente, para compreender melhor o que estamos fazendo no mundo e como podemos fazer de um modo melhor para todos.

Escrevo por necessidade, profunda e verdadeira de conhecer melhor a existência por meio da palavra e da interação com o outro. Minha arte é compartilhada, o mergulho e o voo exigem companhia. Não sou um escritor de literatura tradicional – a duas mãos. Desde criança, preciso escrever com o outro, para o outro. Preciso que ele seja meu leitor e me faça leitor dele, preciso desse vai e vem que o RPG tornou possível.



Preciso do desafio, da dificuldade, de perceber quando os limites do outro bloqueiam minha expansão e vice-versa. Aceito a dor de encontrar e perder parceiros. Aceito que muitos fujam assustados por não darem conta de ir um passo além. E fico triste quando alguns se vão, muitas vezes influenciados por outros mais temerosos.



Não nego a existência lamentável dos invejosos que sondam os jogos e, quando notam que um parceiro brilhante veio enriquecer minha criação, aparecem do nada, como se fossem velhos amigos retornando, e, usando da palavra quase tão bem quanto eu, mas, sem oferecer os perigos do mergulho e do voo de alto riscos, seduzem os brilhantes temerosos e os levam.



É muito comum, após o retorno de certos “amigos”, ocorrer a desistência de algum novato promissor. Nem quero pensar que discursos trocam, prefiro não incorrer em mania de perseguição. Todavia, quando uma coincidência se repete dezenas de vezes ao longo dos anos, não creio que a deva continuar nomeando “coincidência”. Et voilá... a culpa é de Micael Al-Hareck.


Lestat de Lioncourt – que tomei descaradamente emprestado em homenagem a Anne Rice – é só um portal para a alma humana, para a existência. Micael Al-Hareck, a criança que, em minha interpretação, após dez anos de criação, e mais de 40 mil páginas escritas em chats, ele se tornou, é a passagem mais tenebrosa para o lado escuro de nós mesmos.



Não, não, não! Para o lado de luz ofuscante que não suportamos. A luz é muito mais dolorosa que a escuridão. A leveza dela nos destrói, esse país de luxo, calma e volúpia se torna insuportável à maioria de nós.



Eu quero dizer que compreendo a cada um e a todos que abandonaram os jogos, esse luminoso tecido de fantasia que brinca, na superfície, com uma profundidade arrepiante. No jogo adolescente do RPG, vejo as pessoas recuando e recusando o humano demasiado humano, eu vejo as crianças do futuro reichiano sendo adiadas para mais adiante ainda.



Apesar da melancolia que sinto, agradeço àqueles que desistiram. Agradeço aos que virão, aos corajosos parceiros de investigação, como a player da Nycolle Lacroix, que, por sorte, encontrei na sala de RPG Medieval do UOL, na madrugada de 10 para 11 de julho de 2010. Por quanto durar, Nycolle’s player, merci por se aventurar, com suavidade, leveza e mente limpa, aberta, nesta narrativa em que, juntos, tentamos focalizar um pouco de inocência no meio do caos.



Em uma taverna de New Orleans, o bilionário vampiro setita Rarif-Al-Hareck, seguido do “filho” Micael e os quatro costumeiros seguranças, fala aos três [!] celulares, em constantes resoluções de negócios, deixando o moleque entediado, em busca de companhia naquela taverna que frequentara antes do Katrina, décadas antes, muitas vezes com um dos velhos amores da saga original riceana.



Nesse contexto surge a francesa Nycolle Lacroix, em um jogo que durou das 22:58 às 4:23, feito de leveza, empatia e receptividade. Nycolle é abordada por Micael, em quem reconhece a incrível semelhança com o superstar Lestat de Lioncourt. Lenta, regada a milkshake de frutas vermelhas, a conversa das personagens transcorre entre melancolia, sedução e espanto, tendo como foco não declarado de início a dualidade de Micael e Lestat. Abaixo dois trechos do jogo:

(02:38:17) Micael Al-Hareck reservadamente fala para Nycolle Lacroix: Eu sei... é que todo mundo diz... que... que... PAREÇO com ele...*Um pouco de melancolia ficou patente no destaque ao verbo “parecer”...Merci... quero dizer, ele, ele, né? Ele ia gostar de ser chamado de ...criativo, eu... eu... acho....*Os lábios dele chegavam a tremer.* Mas, sabe?, eu acho que não era nada de marketing, não, acho que o cara era mesmo um ... um... vampiro! *Mordia os lábios,entrelaçava as mãos, era muito claro o nervosismo do menino.* Você... acha... ele... ele... bonito? *A voz se tornara mais baixinha, era bem nítida a infantilidade de Micael, uma infantilidade marcada por inocência e angústia. Nycolle era bonita, lhe dava atenção, falava direito com ele, no entanto, lhe parecia cada vez mais inatingível, porque poderia ser mais uma a dar-lhe um fora, dizendo que ele era fake, que havia as leis, ele era menor e coisas assim, frases que lhe jogariam na cara que ele não tinha como ser Lestat de Lioncourt, por mais que se parecesse com o roqueiro. Ao menos se essa versão infantil fosse um+

(02:39:01) Micael Al-Hareck reservadamente fala para Nycolle Lacroix: pouco arrogante e petulante, talvez Nycolle o achasse mais similar. O que quer que tivesse acontecido àquele menino fizera dele um ser muito suave para ser o tal vampiro. O moleque parecia mais frágil do que Lestat se contara como o menino de Auvergne, aquele que, com essa idade de 15 anos, matara, sozinho, oito lobos, no inverno da aldeia natal. Aquele que, aos 13, trepava com as mulheres casadas da aldeia e o vilarejo de Auvergne. Mas, naquele tempo, ele não tinha sido raptado por Deus e pelo Diabo, não tivera o olho esquerdo arrancado pelo capeta, nem viajado pelo tempo e sido beijado por Deus na Crucificação, como, aliás, ele contara em um livro chamado “Memnoch”, publicado em 1994,e que, certamente, parecia o mais ficcional de todos, o mais absurdo, extrapolando qualquer estratégia de marketing. +

(02:39:22) Micael Al-Hareck reservadamente fala para Nycolle Lacroix: O fato era que Nycolle Lacroix era visitada pela sorte nessa noite em uma taverne de New Orleans. Dependeria dela de que a visita assinasse no coração dela o nome imortal de Lestat de Lioncourt, vigiado, ali de pertinho, pelos adoradores de Seth, que a estudavam naquela interação com a sorte e a criança sagrada da Camarilla.*

(02:43:53) Nycolle Lacroix (reservadamente) fala para Micael Al-Hareck: (Estou adorando ele. Verdadeiramente.)

(02:45:02) Micael Al-Hareck reservadamente fala para Nycolle Lacroix: Obrigado, espero que não desista dele, as pessoas que jogam comigo desistem, sempre, por causa dos mesmos motivos que levam as personagens a desistirem do Micael/Lestat: medo.]

(02:54:45) Nycolle Lacroix (reservadamente) fala para Micael Al-Hareck: - Eu também acho...*Nycolle sorria ao ver o nervosismo do menino. Mas aos poucos foi passando a admira-lo de uma forma estranha quando começou a falar sobre vampiros. O olhar dela mudou e os olhos agora semi-serrados pareciam analisa-lo enquanto ele falava.* - Eu não sei se posso afirmar essas histórias de vampiros, Micael. *Ela falava sem saber definir muito bem até onde ia sua crença. Talvez no fundo acreditasse. Mas não queria mostrar naquele momento.* - Você parece acreditar nisso fielmente, não...? *Olhou os lábios do garoto e as pequenas marcas que os dentes deixavam logo após serem mordidos por ele mesmo. E desejou beija-los. Mas logo assoprou os pensamentos de sua mente sem muito sucesso, pois o que falaria agora, o faria olhando ainda para eles.* - Eu o acho bonito sim. Acho Lestat muito bonito.... *falou a ultima palavra devagar, delirando com a boca do garoto. Tentava desvencilhar os olhos, o pensamento, mas agora estava mais difícil. Parecia que a cada minuto a dificuldade aumentava. Levantou nova

(02:55:00) Nycolle Lacroix (reservadamente) fala para Micael Al-Hareck: Levantou novamente uma das mãos e percorreu um pequeno pedaço da mesa com a ponta dos dedos, em direção ao garoto, como se quisesse novamente toca-lo. Mas, com um pouco mais de dificuldade que anteriormente, recuou, arranhando a garganta e se recompondo.*

(02:56:04) Micael Al-Hareck reservadamente fala para Nycolle Lacroix: Poucos jogadores conseguem este tipo de interação: "*Olhou os lábios do garoto e as pequenas marcas que os dentes deixavam logo após serem mordidos por ele mesmo", uau!

(02:56:16) Nycolle Lacroix (reservadamente) fala para Micael Al-Hareck: (Espero que o medo não seja suficiente para me fazer desistir)

Nycolle’s player, congratulations! Espero que sua personagem se torne fixa neste enredo e que você me ajude a tecer com mais rigor, profundidade e alegria os fios desta trama que, na verdade, são somente nossos centros psíquicos e os dos coleguinhas humanos, sejam eles errepegistas ou não.

Links das imagens:
Opium_by_Klemkle:
http://klemkle.deviantart.com/art/Opium-138248348?q=boost%3Apopular+opium&qo=85
Opium_and_Absinthe_by_Eleonore:
http://eleonore.deviantart.com/art/Opium-and-Absinthe-153264625?qj=1&q=boost%3Apopular+opium&qo=407
Opium__by_JoyB:
http://joyb.deviantart.com/art/Opium-105865261?qj=1&q=boost%3Apopular+opium&qo=246
Opium engraçadinho:
http://coffinberry.deviantart.com/art/Collage-of-the-Dead-142280784?qj=1&q=boost%3Apopular+opium&qo=459

sexta-feira, 14 de maio de 2010

A matéria negra e o afeto, para Obaldino.

Obaldino, merci, seja você quem for.
Eu sinto a matéria negra que um dia deve ter composto a sua luz, mon cher. Minha alma antiga se alegra por esse depoimento que se tornou o melhor presente neste aniversário de criação literária em RPG na internet. O anonimato que você prefere é cativante, eu compreendo bem.



Feliz ao ler que os jogos influenciaram suas escolhas de carreira, só posso me render à beleza sempre tão grata aos Toreador. Tenho versos de Rilke e Trakl na lembrança, além dos reflexos negros do nosso sol particular: Lautréamont. Ainda o buldogue estupra a menininha e as palavras continuam insuficientes nesta esgrima que Baudelaire apreciava.



Somos epígonos, bem sei. Não, não traduzirei o termo conhecido pelos letrados à turba conformista da era do iPad. Aqui reservo-me o direito de ser mal-humorado, se necessário. Não escrevo para os ignorantes, nem para os arrogantes e pretensiosos, escrevo para os que buscam afeto nas artes e na vida, àqueles que, no entanto, desconfiam da visão adocicada que as diversas formas de expressão costumam oferecer a respeito do afeto.



Não quero, de modo algum, parodiar ou parafrasear Sócrates, porém, todo meu ser só sabe que nada sabe, embora não se conforme com simplesmente não saber. Sendo assim, apesar da memória de versos fulgurantes, de carne e constelações, ofereço, em agradecimento, uma pitadinha do que anda rolando nos jogos atuais, em que Lestat se tornou um ex-vampiro, perdeu os dons, perdeu a idade de adulto, vem rejuvenescendo sem que cientistas-vampiros e cientistas humanos consigam compreender direito o processo, menos ainda detê-lo.



Metamorfoseado pelo sangue de Cristo, que bebeu ainda nos livros de Anne Rice, mais especificamente em Memnoch, o menino usa o nome falso de Micael Al-Hareck, aconselhado pelos tutores dele. Em chat, os jogos se desenrolam graças à atuação de players corajosos que fazem as personagens deles interagirem com esse inusitado Lestat menino, vivo, puro, mas que mantém desejos talvez de adulto.



Tantas vezes já foi dito nas postagens que esta não é a narrativa de um Lestat roubado da escritora norte-americana, mas, sim, a minha história, a deste escritor não publicado, teórico da literatura não consagrado, que escolheu interpretar o vampiro francês nesta nova forma de literatura e teatro por escrito: role playing game em chat. Passados dez anos, o fascínio aumentou, o prazer e os dramas de jogar com a palavra e as pessoas também se amplificaram.



Estou em aprendizado, um aprendizado do medo e do desejo de perder a identidade, de ser abandonado por toda lógica e toda certeza, um aprendizado sobre o humano e o inumano, tal que as personagens de Thomas Mann em A montanha mágica e Doutor Fausto, aqueles teóricos sensacionais, um humanista e outro um teólogo estudioso do Diabo.

Tenho aprendido que o afeto e a matéria negra do universo são dois polos de conhecimento que precisam ser mais e melhor investigados, a cada dia um pouco mais, por todo tipo de artista, filósofo e cientista. De minha parte, a pesquisa acontece nos jogos, como no fragmento que transcreverei adiante, a você, querido amigo – seja quem for – Obaldino.



O trechinho abaixo não é para fazer sentido. É um convite. Pequena amostra, rastro de perfume, miniatura no mostruário das joias, é um excerto de jogo da madrugada de 01 de maio de 2010, na sala RPG 1, do UOL:



Por ser a primeira vez que uma postagem os menciona, defino o termo “Assamitas”, conforme a Wikipédia:



Assamitas: vampiros do Oriente Médio, que fundaram um clã de assassinos, estudiosos e feiticeiros. São uma espécie estranha de fundamentalistas, praticando uma fé que é uma mistura das muitas religiões do Oriente Médio, com a mitologia vampírica. Eles acreditam que a única forma que os vampiros têm de alcançar o céu é se aproximando ao máximo de Caim, e a única maneira de fazê-lo, é reduzindo sua geração. Durante a maior parte de sua história, os Assamitas se dedicavam à Diablerie, procurando sempre chegar ao "Primeiro". Eles se tornam os assassinos mais temidos entre os Membros. Assassinos de vampiros é o que eles são.


(02:50:04) Micael Al-Haref fala para Assamita.: *Imensa a vontade de gritar de tanta vergonha, por sentir-se reduzido à infantil fragilidade. O moleque estava incapaz de dimensionar a glória acontecida, o fato de a delicadeza dele conseguir despertar humanidade e maternidade naquela vampira. Uma sensação quase reconfortante poderia nascer ali, quando ele se acalmasse, mas, agora, sentia-se imprestável, humilhado pelo próprio medo que ganhara a luta contra o desejo. Se estivesse bem e fosse adulto, rasgaria as roupas de Mina e lhe sugaria os seios, vertendo filetezinhos de sangue. Não se enganasse ela, o sangue dos vampiros atraía o infante, ele precisava desse licor de rubi e fogo. Os seios dela o chamavam, chamariam, se ele não estivesse derrotado pela vergonha. Queria ser adulto, másculo, e se urinava todinho, de puro pavor, agora estava sendo tratado com piedade. Nada podia ser mais humilhante que a piedade de um imortal pela presa, nada.+


(02:50:23) Micael Al-Haref fala para Assamita.: Ele se esquecia de, nos últimos anos como vampiro, ter aderido ao que Marius de Romanus nomeava “ bebida breve”, que consistia no fato de um vampiro sorver apenas um pouco das vítimas, sem lhes tirar a vida. Lestat se esquecia e julgava mal a benevolência da moça. A cabeça apoiada nos seios dela permaneceu algum tempo, até ele recobrar o domínio dos pensamentos perturbados pelo medo, pela vergonha.* Não, eu não vou entrar, eu não posso! *Nervoso, soltou-se do abraço dela, afastou-se, fechando mais o longo casaco, para evitar de ver as calças molhadas, embora as botinhas quase femininas, medievais, o denunciassem, úmidas. Queria gritar que era Lestat de Lioncourt, mas, quem acreditaria? Lá dentro do resort, mas, uma vez, uma canção era cantada por ele nos aparelhos de som ambiente. Uma em que ele se confessava amado pelo demônio, a quem descrevia como “uma alma insone, uma personalidade ansiosa”.* Todo mundo vai rir de mim, você vai rir.


(02:52:29) Assamita. fala para Micael Al-Haref: Ele tem variações fascinantes. De algo sensual pra algo tão bonitinho, tão doce.


(02:53:05) Micael Al-Haref fala para Assamita.: Eu me esforço para o descrever assim, que bom que você inteligentemente percebe, obrigadinho, hehehe!


(02:58:22) Assamita. fala para Micael Al-Haref: *Sentiu-se muito pior ao vê-lo daquela maneira. O magoara tentando ajudá-lo, que desagradável. Bufou por sua incompetência. Precisaria ser melhor para agradá-lo. Levantou-se de supetão e andou de lá para cá, pensativa. Sabia que o que tinha em mente poderia prejudicá-la, mas aquele anjinho chorando, logo ali, já estava pondo todos os futuros planos em risco, de qualquer maneira. Garotinho enxerido, ousado e inacreditavelmente cativante. Parou sua perambulação ao sentar-se de novo, pegando uma das mãos dele. * Eu posso te levar para lá sem que ninguém o veja assim. Mas você deve me garantir que não vai contar a ninguém. Que tal? Um trato? * Soltou a mão do menino e estendeu-lhe o dedinho, com um sorriso verdadeiro, nada de riso. Apenas um sorriso de bondade, ou tentativa dela.


(02:58:31) Assamita. fala para Micael Al-Haref: Depois de agir feito uma marionete de centenas de anos, teria de descobrir por que lutara com sua decência e regras apenas para agradar um menino que em talvez alguns goles, estaria morto. *


(03:00:24) Micael Al-Haref fala para Assamita.: Nossa, essa frase final foi maravilhosa, nossa, que sensacional! Eu também me pergunto porque ela faz tudo o que faz por ele que ela ainda mal conhece, e acho lindo que seja assim. Vou responder, amore, e depois tenho e sair ou minha mulher me mata, hahahaha!


(03:00:45) Assamita. fala para Micael Al-Haref: Claro!


(03:12:42) Micael Al-Haref fala para Assamita.: *Facilmente o garoto era cativado pela bondade, pelos gestos simples, pelo aspecto lúdico do que Mina lhe propunha. Aceitou o pacto, entrelaçou o dedinho ao dela, ainda envergonhado, evitando olhar para a moça, como se isso a impedisse de vê-lo, ou seja, pensava erroneamente: " se não vejo, não sou visto". Não era exatamente que pensasse, somente calculava errado. Nem sabia que gostava de estar sendo cuidado. Era bom ter alguém para livrá-lo da vergonha corrosiva.* Você me leva, então? Eu preciso pedir pro meu pai pra ir embora pra casa...*Mais uma vez as palavras tremiam naqueles lábios. Houve um silêncio, no fim do qual Micael voltou a olhar para Mina* Você é uma vampira legal. Acho que meu pai vai querer me matar, mas, eu vou te contar um lance aí...*Falava tão ao modo atual, como um rapazinho qualquer, nascido há tão pouco tempo.* Já ouviu falar de Lestat de Lioncourt, né? Enchanté, c' est moi! *Estendeu a mão a ela, como se fossem apresentados agora, se sorriu. As covinhas nas bochechas ousaram +


(03:13:07) Micael Al-Haref fala para Assamita.: aparecer, iluminando-lhe a jovialidade, todo para Mina, a caçadora de imortais. Não era pó exibicionismo que o menino se identificava a ela, era por defesa, como se se revelando, pudesse se tornar maior, mais importante, sem medo. Se ela era uma vampira, reconhecia a verdade do que o lourinho dizia, a naturalidade de quem é dono do próprio nome, e, por certo, ficaria pasma, afinal, toda a Família sabia que Lioncourt deveria aparentar por volta de 20 anos e era dono de uma irreverente personalidade hedonista, atrevida, adorável, cativante, sedutora. No entanto, diante de Wilhelmina era um andrógino quase infantil, não um andrógino adulto, quem se apresentava, corando, quase pedindo desculpas por não corresponder ao que ela talvez esperasse do mais famoso dos Toreador. E o modo como ele o fazia era uma declaração de respeito ao poder dela, á beleza imortal que a assassina possuía nas curvas firmes, nos músculos resolutos, na voz ora doce ora determinada.*


(03:13:36) Micael Al-Haref fala para Assamita.: Espero, amiga, que tenha gostado. Eu adorei esta noite, foi um jogo muito caprichado mesmo, obrigado, viu?


(03:13:57) Micael Al-Haref fala para Assamita.: Eu voltarei no domingo, talvez, não prometo, que teremos visitas, droga, hahahaha!


(03:14:59) Assamita. fala para Micael Al-Haref: Também terei e poxa, adorei o jogo de hoje! Muito cheio de todos os tidos de sensações! Você é divino!


(03:15:41) Micael Al-Haref fala para Assamita.: Merci, você também é, finalmente alguém do mesmo naipe que eu, hahahaha!


(03:16:08) Micael Al-Haref fala para Assamita.: Então, moça, boas visitas e diversões aí, certo? Muito obrigado mesmo, se cuidem bem.


(03:16:31) Assamita. fala para Micael Al-Haref: Tenha umbom fim de semana, fofo. Cuide-se e tenham você e sua esposa uma boa noite de descanso!


(03:17:24) Micael Al-Haref fala para Assamita.: Valeu, beijinhos, au revoir.


(03:17:36) Assamita. sai da sala...


Links das imagens:
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/9c/Sig06-005.jpg
http://images04.olx.pt/ui/4/21/18/70821318_1-Imagens-de-angelical-cachorros-Yorkie-para-adopcao.jpg

A matéria negra e o afeto, para Obaldino.

Maldito blogger! Eu protesto, tenho o texto completamente concluído e este maldito espaço não o aceita de modo algum! Talvez precise desta reclamação para que FUNCIONE! Dane-se a proibição de exclamações que meu estilo exige!


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Venha comemorar meus dez anos de RPG em chat, venha ser meu parceiro de criação


Jogar RPG é uma aventura e um exercício em que domamos nosso espírito e desbravamos outras vidas, outras possibilidades de nós mesmos, podendo assumir várias criaturas, vários tempos, experimentar pontos de vista muitas vezes opostos aos nossos. É o que percebo a cada sessão de jogo, por mais que eu seja um teórico da literatura e professor universitário: na verdade, quase nada sei, a ficção me ultrapassa, me desvia de mim mesmo e do que julgo saber.
A ficção interativa quase me desnorteia, pela surpresa de que o outro, o parceiro, não é alguém em mim, a palavra dele me escapa mesmo quando acho que a adivinho.
Esta postagem é confessional, não ficcional, enquanto preparamos novos capitulozinhos, enquanto negociamos com a editora.
Os visantes que desejarem aprender a jogar RPG, e aqueles que já souberem, mas, desejarem experimentar outros estilos, outras parcerias, sejam bem-vindos, estou procurando novos parceiros.
Basta deixarem recado aqui, ou enviarem e-mail para marceldeleon1987@hotmail.com.
Junto experimentaremos o absinto interativo.
Um brinde a novas parcerias.
Estou esperando novos seres criativos para comemorarem comigo meus dez anos deste aprendizado muito prazeroso.
Daniel Rodrigues

sábado, 2 de janeiro de 2010

Do leitor hipócrita ao imbecil que não é leitor (a respeito do subtítulo)

Link da imagem: http://mariie-stone.deviantart.com/art/Fleurs-du-Mal-91597509

Daniel e eu temos recebido e-mails nos perguntando a respeito do subtítulo do livro e do blog: “uma fábula para crianças índigo”. As pessoas querem saber porque ele dedica a obra a essas crianças, e, principalmente, quem são essas crianças, porque são nomeadas “índigo”.

Infelizmente, como estamos negociando com uma editora, não podemos nos estender nas explicações. Posso adiantar que as “crianças e adultos índigo” são o leitor que procuramos. Como o poeta francês Charles Baudelaire, Daniel e eu temos uma ideia do leitor que queremos, nem bem exatamente que queremos, mas, do único leitor que pode entender esta obra e esta parceria.

Em conversas com Daniel – é ele quem joga RPG, quem escreve os jogos e o livro, eu apenas publico o blog e o assumo socialmente porque ele simplesmente não quer aparecer e pronto – temos notado que há dois tipos básicos de errepegistas na internet: os destrutivos ou autodestrutivos e os mimados. Os participantes das redes sociais, em geral, também se encaixam predominantemente em um ou outro desses perfis. Ou o indivíduo quer se mostrar muito otimista, bonzinho, cor-de-rosa, ou então faz o gênero pitbull ou cachorra do mal. Estamos fartos dos dois tipos.

Baudelaire chamava o leitor de hipócrita, viciado no tédio e o nomeava “meu irmão, meu semelhante”. Não queremos ser hipócritas ou viciados no tédio, não queremos ser mimados, estúpidos ou malvados. Não queremos leitores desse tipo, não é para eles que Daniel escreve, nem é para eles que posto este blog em nome do Daniel.

Link da imagem: http://chuckometti.deviantart.com/art/Les-Fleurs-du-Mal-134723128

Aliás, aos moços e moças errepegistas, pelo amor de Deus!, quantas vezes preciso fazer o Daniel dizer que somos dois seres diferentes? Ô, porre! Sou bem menos paciente que ele, e me ofendo muito menos. Botem nessas cabeças – só aqueles que são imbecis, ‘tá? – eu não entro em chat, não jogo errepegê e é impossível você me ofender, a menos que você seja um desses seres: Charles Baudelaire, Arthur Rimbaud, Sthéphane Mallarmé, Paul Valéry, Rainer Maria Rilke, Hölderlin, Novalis, Georg Trakl, Lautréamont, Nietzsche e outros que tenham publicadas e reconhecidas obras-primas do porte das dos citados. Se você não é desse naipe, me poupe, poupe o pobre do Daniel, poupe seus bracinhos que ainda podem vir a ser tendinitosos.


Link da imagem: http://zita52.deviantart.com/art/misstigri-et-les-fleurs-du-mal-85989288
Está certo que Baudelaire era um gênio e nem eu nem Daniel somos, concordo, mas, passados mais de 150 anos, o leitor deveria ter evoluído, na França e no Brasil. A julgar por grande parte do que Daniel grava dos chats, só piorou, e muito. É um paradoxo que esses metidos pensem que escrevem, quando mal sabem ler.

Link da imagem: http://sirxlem.deviantart.com/art/Les-fleurs-du-mal-113415580

O que salva o universo errepegista, pelo que leio no material que Daniel me passa, são os raros que sabem escrever e conhecem a palavra “respeito”, praticando o que ela significa. A esses sou muito grata [quanto aos outros, VEJAM BEM! HOJE ESTOU ASSINANDO A POSTAGEM E NÃO SÓ A POSTANDO, VIRAM?, SEUS IMBECIS QUE NÃO TIVERAM UMA SÓ AULA A RESPEITO DE VOZ NARRATIVA!] por realizarem com Daniel essa dança de palavras e imagens que renderão o belo livro que ele, cansado do mundo, não quer assinar. Graças a esses raros seres, a inveja que sinto do leitor francês de 1857, que Baudelaire “xingava” de preguiçoso, viciado e entediado, se torna um pouco menos dolorida.

Abaixo, transcrevo o poema de abertura do livro As flores do mal, para que os que também se sentem cansados de tanta burrice possam saber que a estupidez humana não é privilégio do RPG e nem de nossa época, mas, que tem piorado, infelizmente, ah, isso tem mesmo.

Link da imagem: http://mefistofele86.deviantart.com/art/Queen-of-Night-83093949

Ao Leitor
A tolice, o pecado, o logro, a mesquinhez
Habitam nosso corpo e o espírito viciam,
E adoráveis remorsos sempre nos saciam,
Como o mendigo exibe a sua sordidez.

Fiéis ao pecado, a contrição nos amordaça;
Impomos alto preço à infâmia confessada,
E alegres retornamos à lodosa estrada,
Na ilusão de que o pranto as nódoas nos desfaça.

Na almofada do mal é Satã Trismegisto
Quem docemente nosso espírito consola,
E o metal puro da vontade estão se evoca
Por obra deste sábio que age sem ser visto.

É o diabo que nos move e até nos manuseia!
Em tudo que repugna, uma jóia encontramos;
Dia após dia, para o Inferno caminhamos,
Sem medo algum, dentro da treva que nauseia.

Assim como um voraz devasso beija e suga
O seio murcho que lhe oferta uma vadia,
Furtamos ao acaso uma carícia esguia
Para espremê-la qual laranja que se enruga.

Espesso, a fervilhar, qual um milhão de helmintos,
Em nosso crânio um povo de demônios cresce,
E, ao respirarmos, aos pulmões a morte desce,
Rio invisível, com lamentos indistintos.

Se o veneno, a paixão, o estupro, a punhalada
Não bordaram ainda com desenhos finos
A trama vã de nossos míseros destinos,
É que nossa alma arriscou pouco ou quase nada.

Em meio às hienas, às serpentes, aos chacais,
Aos símios, escorpiões, abutres e panteras,
Aos monstros ululantes e às viscosas feras,
No lodaçal de nossos vício ancestrais,

Um há mais feio, mais iníquo, mais imundo!
Sem grandes gestos ou sequer lançar um grito,
Da Terra, por prazer, faria um só detrito
E num bocejo imenso engoliria o mundo;

É o Tédio! - O olhar esquivo à mínima emoção,
Com patíbulos sonha, ao cachimbo agarrado.
Tu o conheces, leitor, ao monstro delicado
- Hipócrita leitor, meu igual, meu irmão.