sábado, 2 de janeiro de 2010

Do leitor hipócrita ao imbecil que não é leitor (a respeito do subtítulo)

Link da imagem: http://mariie-stone.deviantart.com/art/Fleurs-du-Mal-91597509

Daniel e eu temos recebido e-mails nos perguntando a respeito do subtítulo do livro e do blog: “uma fábula para crianças índigo”. As pessoas querem saber porque ele dedica a obra a essas crianças, e, principalmente, quem são essas crianças, porque são nomeadas “índigo”.

Infelizmente, como estamos negociando com uma editora, não podemos nos estender nas explicações. Posso adiantar que as “crianças e adultos índigo” são o leitor que procuramos. Como o poeta francês Charles Baudelaire, Daniel e eu temos uma ideia do leitor que queremos, nem bem exatamente que queremos, mas, do único leitor que pode entender esta obra e esta parceria.

Em conversas com Daniel – é ele quem joga RPG, quem escreve os jogos e o livro, eu apenas publico o blog e o assumo socialmente porque ele simplesmente não quer aparecer e pronto – temos notado que há dois tipos básicos de errepegistas na internet: os destrutivos ou autodestrutivos e os mimados. Os participantes das redes sociais, em geral, também se encaixam predominantemente em um ou outro desses perfis. Ou o indivíduo quer se mostrar muito otimista, bonzinho, cor-de-rosa, ou então faz o gênero pitbull ou cachorra do mal. Estamos fartos dos dois tipos.

Baudelaire chamava o leitor de hipócrita, viciado no tédio e o nomeava “meu irmão, meu semelhante”. Não queremos ser hipócritas ou viciados no tédio, não queremos ser mimados, estúpidos ou malvados. Não queremos leitores desse tipo, não é para eles que Daniel escreve, nem é para eles que posto este blog em nome do Daniel.

Link da imagem: http://chuckometti.deviantart.com/art/Les-Fleurs-du-Mal-134723128

Aliás, aos moços e moças errepegistas, pelo amor de Deus!, quantas vezes preciso fazer o Daniel dizer que somos dois seres diferentes? Ô, porre! Sou bem menos paciente que ele, e me ofendo muito menos. Botem nessas cabeças – só aqueles que são imbecis, ‘tá? – eu não entro em chat, não jogo errepegê e é impossível você me ofender, a menos que você seja um desses seres: Charles Baudelaire, Arthur Rimbaud, Sthéphane Mallarmé, Paul Valéry, Rainer Maria Rilke, Hölderlin, Novalis, Georg Trakl, Lautréamont, Nietzsche e outros que tenham publicadas e reconhecidas obras-primas do porte das dos citados. Se você não é desse naipe, me poupe, poupe o pobre do Daniel, poupe seus bracinhos que ainda podem vir a ser tendinitosos.


Link da imagem: http://zita52.deviantart.com/art/misstigri-et-les-fleurs-du-mal-85989288
Está certo que Baudelaire era um gênio e nem eu nem Daniel somos, concordo, mas, passados mais de 150 anos, o leitor deveria ter evoluído, na França e no Brasil. A julgar por grande parte do que Daniel grava dos chats, só piorou, e muito. É um paradoxo que esses metidos pensem que escrevem, quando mal sabem ler.

Link da imagem: http://sirxlem.deviantart.com/art/Les-fleurs-du-mal-113415580

O que salva o universo errepegista, pelo que leio no material que Daniel me passa, são os raros que sabem escrever e conhecem a palavra “respeito”, praticando o que ela significa. A esses sou muito grata [quanto aos outros, VEJAM BEM! HOJE ESTOU ASSINANDO A POSTAGEM E NÃO SÓ A POSTANDO, VIRAM?, SEUS IMBECIS QUE NÃO TIVERAM UMA SÓ AULA A RESPEITO DE VOZ NARRATIVA!] por realizarem com Daniel essa dança de palavras e imagens que renderão o belo livro que ele, cansado do mundo, não quer assinar. Graças a esses raros seres, a inveja que sinto do leitor francês de 1857, que Baudelaire “xingava” de preguiçoso, viciado e entediado, se torna um pouco menos dolorida.

Abaixo, transcrevo o poema de abertura do livro As flores do mal, para que os que também se sentem cansados de tanta burrice possam saber que a estupidez humana não é privilégio do RPG e nem de nossa época, mas, que tem piorado, infelizmente, ah, isso tem mesmo.

Link da imagem: http://mefistofele86.deviantart.com/art/Queen-of-Night-83093949

Ao Leitor
A tolice, o pecado, o logro, a mesquinhez
Habitam nosso corpo e o espírito viciam,
E adoráveis remorsos sempre nos saciam,
Como o mendigo exibe a sua sordidez.

Fiéis ao pecado, a contrição nos amordaça;
Impomos alto preço à infâmia confessada,
E alegres retornamos à lodosa estrada,
Na ilusão de que o pranto as nódoas nos desfaça.

Na almofada do mal é Satã Trismegisto
Quem docemente nosso espírito consola,
E o metal puro da vontade estão se evoca
Por obra deste sábio que age sem ser visto.

É o diabo que nos move e até nos manuseia!
Em tudo que repugna, uma jóia encontramos;
Dia após dia, para o Inferno caminhamos,
Sem medo algum, dentro da treva que nauseia.

Assim como um voraz devasso beija e suga
O seio murcho que lhe oferta uma vadia,
Furtamos ao acaso uma carícia esguia
Para espremê-la qual laranja que se enruga.

Espesso, a fervilhar, qual um milhão de helmintos,
Em nosso crânio um povo de demônios cresce,
E, ao respirarmos, aos pulmões a morte desce,
Rio invisível, com lamentos indistintos.

Se o veneno, a paixão, o estupro, a punhalada
Não bordaram ainda com desenhos finos
A trama vã de nossos míseros destinos,
É que nossa alma arriscou pouco ou quase nada.

Em meio às hienas, às serpentes, aos chacais,
Aos símios, escorpiões, abutres e panteras,
Aos monstros ululantes e às viscosas feras,
No lodaçal de nossos vício ancestrais,

Um há mais feio, mais iníquo, mais imundo!
Sem grandes gestos ou sequer lançar um grito,
Da Terra, por prazer, faria um só detrito
E num bocejo imenso engoliria o mundo;

É o Tédio! - O olhar esquivo à mínima emoção,
Com patíbulos sonha, ao cachimbo agarrado.
Tu o conheces, leitor, ao monstro delicado
- Hipócrita leitor, meu igual, meu irmão.