domingo, 16 de janeiro de 2011

Sexo, doces e Dead Flowers - como nasce uma banda de rock'n'roll


Três meses de jogos com Ys. A narrativa evolui rica e homogênea. Tara Barka, a primeira personagem que Ys pôs em cena tem companheiros bem elaborados, e não são poucos. As “pessoinhas de Ys” são os pais de Tara: Malik Barka e Sinéad Burke; um mercador de opium do Marrocos, e uma feiticeira da Irlanda. Malik é um carniçal dervixe (religioso, monge mulçumano, sufista). Sinéad foi modelo nos anos 1990 e hoje é uma estilista. A eles juntam-se todos os componentes da banda criada pela autora (Mark Hills – compositor, vocalista e guitarrista; Milla – Milena Novák, baixista; Paul “Mars” Taylor – baterista; Morgan Allen – pianista, maestro e arranjador; Phil Jones - guitarrista) e inspirada na música homônima dos Roling Stones: “Dead Flowers”. Isso dá aos jogos e ao futuro livro Purple Rain um tempero jornalístico à la “cena alternativa chic”, como o leitor pode experimentar nesta postagem aperitivo e, depois, lendo o livro em papel.

A primeira vez em que a banda é mencionada acontece quando Ys narra a primeira transa de Tara Barka e Mark Hills, o vocalista dessa banda, em jogo da madrugada de 01 para 02 de novembro de 2010. A banda vai nascendo conforme também a relação de Micael e Tara se delineia, é deles também um primeiro encontro:

“Estão todas erradas, foi maravilhoso!”, foi a primeira coisa a surgir na cabeça da garota depois que o cuidadoso Mark tirou seu quente corpo de cima dela, sua mente desmentia as afirmações de suas amigas mais velhas sobre “a primeira vez”. Sua relação com Mark foi a coisa mais próxima de um namoro real que Tara já teve e foi justamente dessa relação que brotou a flor negra, de cheiro noturno de sua inconstância espacial e afetiva. Os olhos de Tara jamais se fecharam por completo, Mark passou a ter o rosto de Lestat e sua presença começava a tornar rançosa a relação dela com o seu ídolo, uma vez que seu desejo nunca poderia ser saciado pelo rapaz. Mark havia ganhado o mundo, sua banda estourou no ano seguinte à partida de Tara, “Eyes of Desire” (Olhos do Desejo) foi o primeiro sucesso de “Dead Flowers” (Flores Mortas, uma referência à música dos Stones).

Tara se voltou para Micael: “Eu gosto de estrelas porque elas estão sempre brilhando, Micael, seja de dia ou de noite. Quando chamo alguém assim é o maior elogio que eu posso fazer.” disse, tentando desviar o assunto, mas aqueles olhões pregados no rosto de Micael, absorvendo o pouco brilho que entrava pelas janelas das escadas em espiral e refletindo de volta uma luz etérea, como se suas pupilas cuspissem no ar íons roxos no espaço escuro daquele lugar guardado, intocado pelo mundo esquisito do lado de fora, fez Tara voltar ao tópico primeiro: “Aquele que liga ao som de Purple Rain é alguém que merece um pouquinho do meu tempo, mas só o suficiente para me fazer voltar à chuva roxa desses seus olhões, Micaelzinho!”. Tara havia encontrado Mark só uma vez depois de sua partida de Londres, num show da Dead Flowers em Nova Iorque, há dois anos, e trocaram celulares.

Tara não queria encontrá-lo, mas nutria um carinho nascido da parte mais afetiva de seu relacionamento com Mark que a impedia de ignorá-lo por completo, conversavam quase semanalmente por telefone. “Estou em Montreal, Tara”, “Agora estou em Austin”... “Entrei em contato com sua mãe e pedi para ela criar os figurinos de minha nova turnê, Tara. Escuta, ela sabia de nós dois?”, não achou estranha a pergunta, Sinéad era a ex-modelo e atual estilista mais famosa que a Irlanda já produziu e Tara nunca conseguiu esconder nada dela.

Fez Micael sentar no sofá e abriu a porta de vidro, guardada por cortinas adamascadas, que dava para uma sacada com muitas plantas. Sentiu o ar ainda gelado daquela noite invadir a sala, fechou os olhos para sentir melhor; nesse momento, se Micael estivesse lançando mão de sua curiosidade de menino, poderia notar que as plantas do lado de fora não se mexiam com a ventania atravessando a sacada e invadindo o pequeno living do apartamento. Tara voltou à frente de Micael e, ainda de pé, disse: “E então, Micael, você veio comigo...”, pôs a mão no ombro do menino e perguntou como uma mãe perguntaria ao sei filho recém-chegado imundo de uma tarde esportiva, ainda que uma certa malícia inocente pudesse ser percebida na ênfase que dava a algumas palavras “... não quer tirar essa roupa molhada antes que fique manchada pra sempre?”


Nos jogos de 2007 a 2009, Lestat de Lioncourt foi perdendo a capacidade de continuar músico, enquanto ia sendo reumanizado e rejuvenescido pelo sangue sagrado bebido nos lábios de Jesus Cristo. A partir de 2010, já um garoto de 15 anos, afastado da cena musical, ele é forçado a apresentar-se, pelos tutores dele, como Micael Al-Hareck. Em diversas ocasiões tenta compor ou tocar e não consegue, ou consegue de forma insatisfatória, desesperando-se. A música torna-se incômodo e sofrimento, ele a evita o máximo que consegue.

O mais bonito nos jogos com Ys é que Lestat, tendo deixado de ser músico, vai se tornando música. São dele os “Olhos do Desejo”, canção composta muitos anos antes de ele entrar na vida de Tara, Mark e dos componentes da Dead. É bonito ver Ys compondo a canção, criando a banda como presente inegável à minha personagem.

Visceral, rocker, bem ao estilo dos ídolos que apreciamos, o processo de criação de Ys é algo notável como as palavras dele/a mesmo/a revelam, olhem, por favor, leitores, aqui, em trecho de MSN, sem correções, hahahaha!:

olha só que coisa, Daniel: Tara é a rock star irlandesa mulher que eu um dia fui... e Mark é o rock star stonesco e poderoso que eu quis ser nesta vida. estou adorando viver a paixão tão humana desse cara, misturado na sua fama sem importância para ele... ele gosta da "sujeira glam", do álcool frívolo... da fogueira do sacrifício que ele memso acende em cada show da Dead Flowers. Rock Star maduro, que não precisa mais abrir a cauda d epavão para ser notado... o som da sua guitarra, da música e da voz abarca todo o seu ritual pessoal de paixão e destruição... o Dead Flower é vetor de sua visão de mundo... as flores mortas são aquelas mortas e vencidas pela luz da manhã. Como na música dos Stones "mande flores mortas via correio, mande flores mortas para meu casamento."


Mark me lembra outro amor do Lestat:    Nick Dickinson,   um grunge       bem americano, interpretado pela mesma jogadora que fazia a Deusa Bastet, entre 2000 e 2002. Assim que Mark surgiu nestes jogos com Ys eu soube que Micael vai fazer comparações e cair de amores por ele. A mesma típica destruição rocker havia no outro, e o avatar dele era Kurt Cobain, mas, a jogadora desistiu, ouvindo más línguas que diziam que eu incentivava a pedofilia, fiquei tão triste, até porque se eu tivesse alguma parafilia dessas, seria a infantilização, e não a pedofilia, uma vez que interpreto uma suposta criança. Quando comentei isto com Ys, ele disse temer quem confunde e mistura tudo, que essas pessoas buscam “enfear de real a minha linda ficção”. Diante de um parceiro como ela, eu não via a hora de lidar com Mark, porque sei que vai me ajudar a superar o Nick, até porque jogo e texto de Ys são excepcionalmente muito, muito melhores que os da moça de BH, embora eu sinta saudade e tenha muito carinho por ela e nossa antiga parceria.
A Dead Flowers vai nascendo, feita de crítica musical, jornalismo cultural e um caleidoscópio de metáforas, na noite de 21 para 22 de novembro de 2010:


(09:16:49) Tara Barka fala para Micael Al-Hareck: Esta sexta-feira era março. Mark decidiu revisitar sua musa, seus olhos da colina de Tara e a encontrou arredia, cuidando de um bibelô emplumado. Ele havia conseguido o sucesso que imaginava ter com Tara sendo sua baixista, a Dead Flowers figurava na capa da Rolling Stone daquele mês. A nova turnê estava sendo documentada pelo cineasta Jonathan Demme de maneira tão inovadora quanto a do filme “Stop Making Sense”, de 1984, no qual o diretor capturou em chiaroscuro a banda Talking Heads do energético David Byrne.

(09:16:56) Tara Barka fala para Micael Al-Hareck: A turnê e o filme foram batizados de “If There Is Something” (Se Há Algo, uma referência à música de 1972 do Roxy Music). O design de figurinos e cenários foi feito por Sinéad Burke, ela própria se ofereceu para a tarefa. Mark escolheu abrir todos os concertos com diferentes versões para a música “Candy's Room” (Quarto de Candy) do cantor Bruce Springsteen. Às vezes, uma versão idêntica, outras vezes as guitarras reclamavam uma fúria punk, destituindo a original de seu encanto de “heartland rock”, e, até mesmo, versões acústicas, solitárias e gelificando na escuridão do palco vazio.

Para que melhor se apreciem o livro e as personagens deste Purple rain, dentro de Vampiros na internet: uma fábula para crianças índigo, é fundamental que, pela ótica de Ys, nessa mesma madrugada de jogos, se percebam as oposições, os traços de cada personagem desse trio: Mark Hills, Tara Barka e Micael Al-Hareck:

(09:17:49) Tara Barka fala para Micael Al-Hareck: Nesta sexta-feira, Mark teria entrado no quarto de Candy, esperaria fechar os olhos de Tara como na primeira vez em que a amou, deixá-los derreter, incendiar, queimar... Queria tê-la para si só por mais uma noite. Poderia ter sido nessa sem rock and roll, mas consagrada à chuva roxa do Príncipe Púrpura de Mente Suja, negro diminuto de Minneapolis, contido no toque do aparelho celular de Tara, “Só quero ver você se banhando na chuva púrpura”.

(09:17:54) Tara Barka fala para Micael Al-Hareck: Cinco pessoas jogadas pelo globo estavam sendo banhadas pela chuva roxa: Tara Barka com seu sangue escarlate e todo universo rasgando-lhe entranhas, deixando-a surtada em dança, palavras e nomes, amando e odiando a luz que chora, hecatombe do amanhecer dourado ao seu lado, sem saber se estava nascendo de novo ou morrendo eternamente. Micael Al-Hareck, vítreo diapasão diáfano, pérola sagrada em um mundo herético, incontáveis vidas em olhos de violeta infinito, lançando luz como espaçonave de mil Sírius e mil Aldebarãs, insuportável leveza humana contida na imortalidade se esvaindo.

(09:18:00) Tara Barka fala para Micael Al-Hareck: Mark Hills, antimatéria negra ofendida por cada pingo púrpura da chuva cintilante, Mercúrio do rock, mensageiro de Orfeu no Tártaro, querendo o que não pôde ter, esperando que a luz estúpida e artificial de seu celular lhe dê coragem.


Chega   a   noite   do    show   da   Dead Flowers, no estádio Superdome, em   New Orleans, o mesmo  em que, nos anos 1980, Prince brilhara, vestido em tons brilhantes de pavão, na vida real, e, em minha ficção nos anos anteriores a 2010, Lestat de Lioncourt e a banda Satan’s Night, a mesma dos livros de Rice, teria cintilado. Importa agora mostrar os efeitos da performance de Mark Hills e seus pares na percepção de Micael. E depois disso, quem quiser saber mais escreva para marceldeleon1987@hotmail que lhes mandaremos arquivos destes jogos em que professor e aluna errepegistas, partindo das Crônicas vampirescas, de Anne Rice, do livro de sistema de RPG Vampiro – a máscara, de Mark Hagen, e de muito conhecimento de rock’n’roll e vertentes criam a banda Dead Flowers, vetorizando o sagrado urbano contemporâneo:




(04:01:36) Micael Al-Hareck. fala para Tara Barka:      *A beleza do que a banda estava fazendo era muito forte e mexia com o que restava de músico em Lestat de Lioncourt. O amor e a glória daquelas obras-primas nascentes de flores mortas eram dolorosos apesar de aconchegantes. Micael não suportava mais, no exato momento em que começava a despertar e viu o homem pular do palco em direção à platéia, a ele, foi como se a chuva púrpura se concretizasse naquele corpo férreo sintonizado aos equipamentos acústicos, percorrido por muitos volts de eletricidade. O público aplaudia febril e quente, imenso, susto terrível ao menino que despertava, queria estar com Mark e Tara em silêncio. A beleza do show estava pesando no lourinho que há muito havia deixado de ser o Jibral de Malik. O beijo na bochecha fora tão gostosinho, quase como se dado nos lábios indecisos de Mic que bem se esforçaram por roubar os de Mark. A música sem significado algum era, na verdade, uma exorbitância deles, deles, significados, e dos amantes que Milena Novák sabia serem apoteoses

(04:02:03) Micael Al-Hareck. fala para Tara Barka: de acontecimentos. Ele os olhava a todos em suas capas de filigranas, sentiu falta dos óculos violeta, parecia estar exposto ao sol e o temia, mesmo sendo humano agora. Desejou que o show acabasse, estava mal se podendo em pé, a dança o extenuara. O estádio o sufocava. Não podia ser ingrato e descortês com aqueles seres que, sabia no fundo da alma, eram amores antigos dele. Milena era uma incógnita e o atraía muito. Seria amor? Desejo? Temor? Curiosidade de infante? Uma vampira no meio daqueles humanos queridos! Isso deveria ser levado em conta, ele levava. Tara parecia não ligar; Mark talvez não soubesse, e Micael não parava de pensar no poder da Tremere, na ilusão que a fazia ser camaleônica e copiar-lhe os olhos violeta. Mark se desculpara e o menino recebera o pedido como veludo no rostinho espetado pela barba a fazer.

(04:02:22) Micael Al-Hareck. fala para Tara Barka: Mais que a suprema execução de “Purple Rain”, tão admirável quanto a original, só que mais selvagem e dolorida, esmurrante, um soco na boca do estômago de quem ouvisse, aquele roçar de aspereza contra suavidade tinha sido creme cicatrizante em uma ferida aberta no menino, a ponto de ele ter estendido a mão esquerda indecisa para segurar o homão, inutilmente. O homem o dera à moça, quanto reconforto nisso, Micael se alegrou e anteviu o saborzinho de sorvete de cereja com chantilly ou leite condensado. Lambeu os lábios, pensando nisso, perdera a conexão com a enorme potência estética do que faltava para acabar o show, como uma criança que, de repente, se cansa de ficar na festa dos adultos e adormece pelos cantos. Descera da pose de rockstar, parecia incomodado no vinil suado, incomodado com o barulho da multidão.

(04:02:43) Micael Al-Hareck. fala para Tara Barka: O poder e a imortalidade de Milena o faziam recordar-se de tudo que tinha perdido. Estava se sentindo criança, oscilando entre a alegria do começo do show e uma impaciência que a música vinha lhe causando por lhe fugir, por ele não ter mais competência para aquilo em que Hills vicejava como ouro nascendo em copos-de-leite. Infantil, estava com ciúme da música, a amante de Mark que o estava ainda e uma vez mais afastando todos da noite de pijama púrpura. Egoistinha, sim, a criança sagrada nem pensava que estava se permitindo exatamente aquele puro egoísmo tolo. Não era tolo para ele, a dança o levara ao limite do sagrado que podia suportar. Cada vez menos Lioncourt, cada segundo um pouco mais Micael, submerso em desejos urgentes e apressados. Segurou na mão de Tara, quentinho, olhou-a nos olhos e aproximou-de do ouvido, dizendo daquele jeito de cócegas.*

(04:03:11) Micael Al-Hareck. fala para Tara Barka: Ainda falta muito, muito? *Se fosse Lestat e se visse, riria de si mesmo, de como podia ser tão naturalmente despropositado, egocêntrico com aqueles seres feitos de generosidade, mesmo se Hills não se visse assim. Jibral. Jibral de Malik queria levar a estrelinha de ametista para longe dali, para brincar com Adorável nos campos coloridos de papoula. Muitas vezes [pode xeretar nos arquivos do pendrive] Lestat drogado se imaginara dançando e cantando em campos de papoulas, aderido ao sagrado insano e bonito, todo sagrado é insano, todo sagrado é bonito. O sagrado não é bonzinho e fácil, não, ele sabia disso, mesmo se o sagrado fossem pipocas de melado e xícaras com chocolate quente. Benditos campos de papoula de Malik!

(04:03:31) Micael Al-Hareck. fala para Tara Barka: Benditos nos séculos dos séculos! Glória ao que é sem princípio! Glória nos séculos dos séculos! Para sempre, Glória! A glória multicolorida de sorvete e confeitos. Micael percebeu que Tara o fazia sempre lembrar-se de Malik, só podia mesmo ser a filha do mercador, o sobrenome, as similaridades, e aquela ametista-estrelinha. Então ele conhecia a dona da Adorável? Adorável era a dona, essa, lírio-laranja. Que engraçado! Ele estava tão criança que quase podia ir caçar pedras com Tara e Adorável. Sentiu tanta saudade de não ter vivido isso. Levou o dedo indicador direito ligeiramente dobrado à boca e lhe mordia a primeira falange, nervoso, repetindo a pergunta.* Demora, chérie, demora?*Poderia parecer desrespeito artístico, não era, ele amava a arte de Hills, estava fascinado por tudo que vira, ouvira e sentira nas fibras do corpo de efebo. Por isso mesmo não suportava o desejo de ter Mark e Tara só para si. Infantil, findando, aquele era Lestat de Lioncourt.