Enquanto Ys viaja e namora, minha câmera passeia por um quarto de hotel em Los Angeles. Vejo Tarinha, Paul "Mars" Taylor, Micael e uma caixa de presente recém-chegada da Irlanda. Bem poderiam ser estas as reações, não é?
O garoto… será que é quem? Será que sou eu,
hein? *Jardim de Êxtases levando, lavanda, menino pelas mãos, pela voz de Tarinha.
Senhora Burke, ah, o sobrenome roxo e ouro antigo rodeado pelo coral
fosforescente de “Senhora” chegava em ondinhas na memória de Micael, mas, de
onde é que vinha? Ele quase capturava o nome grudado a alguma vivência,
perdendo-o no próximo piscar do tempo mais rápido, bem mais rápido que as
pestanas lourinhas dele. Micael tinha se aproximado muito da caixa, dos gestos
de Tara enquanto ela ainda nem abria a caixa cilíndrica.*
Abre, abre! Será que sou eu o garoto? Mas,
como assim? Eu conheço minha sogrinha, conheço? *Chegava a dar pulinhos, o
corpo róseo de vida e estátua se movia como um flamingo esticando pernas para o
voo. O repouso engraçado do pinto e das bolinhas de filhote se coloria de
espera e graça, como se fosse dançar com os dedos vivos da filha a receber o
presente da Irlanda.* Burke! Sinéad Burke! Hahahahahahahahaha!*Ele prendeu os
cabelos em alto coque, pondo-lhes um palito chinês de madrepérola em tons
lilases e rosados, mas, voltou a soltá-los e a prendê-los duas ou três vezes,
terminando por os deixar pendendo sobre os olhos aflitos.*
Ela nunca deu bola pra mim, nunca, e a gente ‘tava
junto em muitos desfiles,muitos...*Nesses momentos, a voz dele quase adulta se
unia à de menino, quase em contraponto. Micael não pensava mais para se contar
Lestat, incapaz de notar se havia algum desconforto em Mars que o ouvia. Ele
nem percebia o desconforto no próprio coração, no corpo ansioso, oscilante
entre as identidades. Rodeando Tara, Mars e o presente, o menino peladinho
oscilava em adultices sem força, tomado por memórias de décadas atrás. Uma
torrente das lembranças recentes, do dia mesmo, se juntava ao passado fashion e
marroquino, a estúdios e passarelas europeus e americanos, a ensaios
fotográficos nos quais o Príncipe dos Moleques iluminava roupas e estilistas, muitas vezes quase muito perto da modelo
irlandesa, nunca perto demais que Lestat pudesse dizer que a fodera, comera e
outros verbos ignominiosos tão ao gosto da falsa falta de classe que ele
ostentava em meio à lírica androginia aprisionada pelas ávidas lentes dos mesmos fotógrafos enredados pelo fogo nos cabelos de Sinéad.*
Ai... Hank bem falou que tinha um presente hoje, um presente,
Tarinha! É pra mim, é? Que que é, hein? Mars... eu vou ganhar outro presente!
Só que vou contar pro Mark que a gente se beijou, isso foi um presente também,
e é quase meu aniversário, faltam três dias... Como a mãe da Tarinha sabia? Ela
é uma bruxa, sim, senhor, ela nem sabe que eu sou eu, nem sabe! Vou pedir pra
ela fazer uma magia...*Calou-se, só um pouco, esperando a abertura do presente
por Tarinha. Isso demorava, ele retomou as palavras como fitas.* ... uma magia
pro Mark deixar a gente chupar ele... e namorar todo mundo junto, eu vou pedir,
e ninguém vai virar salamandra.
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