domingo, 24 de julho de 2011

O Incandescente e as balas de tangerina de Marte


Retomo a leitura de um livro especial abandonada em 2005. A retomada se deu há poucos dias, em conversa no MSN com Ys. Ele me passou a música “Holocene”, de Bon Iver, e a memória de O incandescente, de Michel Serres, se acendeu subitamente em mim.

Recordei as relações entre os movimentos astronômicos, as eras geológicas e o cotidiano dos humanos afetos. Holoceno, se não me engano, é o período geológico em que vivemos, e a percepção desses tempos irmana Bon Iver e Michel Serres. Ambos são trilha verbo-sonora das Pessoinhas de Ys e meu Micael em nosso livro Purple Rain.

Em 2005 interrompi a leitura porque não suportei o Universo em uma gota de chocolate morno, mas, hoje estou pronto e sou o incandescente. Redescubro o livro e me assumo no dia em que Paul “Mars” Taylor, o astrofísico baterista da Dead Flowers convida Micael para conhecer a bateria cor de bala de tangerina com glitter.


Como se fossem balas de tangerina vindas de Marte,
Hank “Pateterna” profetizou-a ao menino, algumas horas antes. Entre a profecia e a bateria, Micael tomou suco de romãs com tangerinas, pedido que imitou de Tarinha, na lanchonete. Tara, Micael e Mark Hills almoçavam no quinto dia, em nosso nono mês de jogos.
Hank, Arcanjo; Mars, baterista; Tarinha, récif, étoile; Micael, menino, primevo, messias gay; Ys, demiurgo de pessoinhas e constelações; Moi, antes solitude somos tomos O Incandescente.

“Holocene” nem havia chegado a meu computador, mas, Ys já havia comprado O Incandescente no Submarino... eu acho.

Vou relendo o livro, catando frases feitas conchas trazidas pelas ondas. Algumas são reencontros, cintilam como epígrafes do novo livro: “Não há aqui outra coisa senão a Casa de Deus e a porta do Céu” (Gênesis, XXVIII, 12).


Catedrais cantantes submersas e as almas profundas de todos os seres e coisas me ensinam o método pelo qual aprendo a existir na carne da vida e das palavras.

Acredito que a sintonia fina entre Ys e eu se deva à similaridade de nossas metodologias embasadas no afeto e no signo artístico da música e da literatura.

Algumas pessoas vivem por meio de outros signos, ou são zumbis no excesso mortífero da informação que não gera significados, no entanto, nós precisamos do arranjo semiótico para não enlouquecer de Beleza em toda parte, até mesmo na superfície da feiúra. A feiúra midiática é só a tentativa inútil e desesperada de enganarmos não a morte que fingimos temer, mas, a vida que todos temem de verdade.




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